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"A Cura", de Deborah Colker, é um desbunde artístico

Olhar Teatral, Por Paty Lopes, Crítica Teatral

Em 04/02/2022 às 16:11:15

"A Cura", da coreografa Debora Colker, chega causando impacto para todos que assistem sua obra. Déborah está além do que se pode imaginar.
Se fazer entender, fazer entender o que sangra a alma, não é uma missão muito fácil, principalmente quando se mexe comsensações e sentimentos.
A coreógrafa é exímia em seu ofício, mas um espetáculo não se faz sozinho, A Cura tem uma ficha técnica bastante primorosa, e dentre ela, é perceptível a grandeza dos dançarinos envolvidos.
Uma mistura de fogo, paixão e técnica é mostrada em cada movimento deles, inclusive a alegria.
O espetáculo é bem-vindo para todos, e pode-se dizer, bem-vindo ao mundo, embora em seu seio, o espetáculo carrega uma causa por sua existência, em paralelo temos resultados milagrosos através da vacina que alcançou o mundo, diariamente diminuindo o número de mortes entretodos nós.
Um atravessamento difícil, denso, tenso, como o espetáculo aponta.
Quando um artista prentende e entende o que sangra em seu íntimo, tudo é possível quando nele há capacidade de execução, o que sobra na coreógrafa. Mas tudo isso ainda não é suficiente quando não há humanidade, pois esse é o maior incentivo emcional de um artísta nato, que também é mais que afirmado em Débora.
Tem os que dizem, com fomento é fácil, mas não, nada paga uma criação tão latente quanto a obra 'A Cura", NÃO HÁ DINHEIRO QUE PAGUE A CONCEPÇÃO ARTÍSTICA DO CRIADOR.
A montagem fica mais bela e até mais colorida quando o investimento chega, mas não se paga a coragem de levar ao palco no Brasil, onde se classifica laico com bancada evangélica, a união de um orixá à versículos bíblicos.
Isso mostra a força e competência de como e infinitude do respeito, o que falta no país, mais uma vez glórias a avassaladora Débora.
E tudo isso foi possível ao corpo de dança da coreógrafa. Eles são feitos de mola, de exatidão e sofisticação em cada movimento alcançado.
Belíssimo, de deixar a todos de boaquiabertos, boquiabertos diante da sarna, diante dos movimentos que demonstram quando o mau de Alzeimer chega, a imensidão do amor daqueles que não abandonam os sofridos por doenças que agridem o corpo humano, pasmem,mas tudo isso é levado ao palco.
Perfeição que coroa cada dançarino em cena. PERFEIÇÃO!
Somente eles sabem dos intermináveis ensaios e subordinação aos corpos, independente do cansaço que eles carregaram para chegarem ao topo, pois não existe outro lugar que mereçam que estar que não seja o topo!
Transformar todas as ideias em palavras foi a tarefa do dramaturgo Nilton Bonder, que pareceu mergulhar na história, nos sentimentos de dor, nos sentimentos de fraqueza, nos sentimentos de empatia e tantos outros sentir.
E a cadência dramturga não peca também, não deixa cair o ritmo da apresentação. Viajou sem sair do lugar, usou a cultura dos povos com devoção e respeito. Embasou as palavras na história e principalmente na fé. Foi um mergulho dramaturgo belíssimo. Acompanhar sem arranhões a grandiosa Debora foi de uma sagacidade ímpar.
Entender de doenças, entender de dor, entender em palavras, tudo que submete o ser humano ao caos e ir além, pois o ponto final leva o extase qualquer indivíduo as palmas, lágrimas e muita alegria, diria mais, ESPERANÇA DE PAZ E RESPEITO, ENTENDIMENTO AS DIFERENÇAS, SEJAM ESSAS QUAIS FOREM!
As religiões, os povos que são representados no palco, que arrepiam a pele de qualquer ser humano que carrega em si sentimentos e a mensagens de paz entre os povos.
A música de Carlinhos Brown também é digna de contemplação, são notas e percurssões que parecem ter sido captados do coração, pois fazem com que nossos corações se unam ao que os olhos estão contemplando.
Percurssões externa e internas, pois seria possível sentir os batimentos cardíacos se não estivéssemos tão envolvidos com que assistimos. Os bailarinos erguem suas vozes a plateia, assim como as percurssões corporais chegam aos ouvidos dos espectadores como uma forte cavalaria, exprimindo força.
Maneco Quinderé soube dizer: haja luz! A luz que permite a todos assistirem bem a execução. O teatro é enorme, e independente de onde o espectador estiver, ele assistirá o espetáculo, com a minuciosidade necessária, tudo isso é possível por uma iluminação eficiente.
O cenário é contemplativo, pois fala e se transformam em objetos de cena, verdadeiras ferramentas para a exposição dos corpos em cena, tudo assinado por Gringo Cardia. O profissional deu uma lição do menos é mais, pois basta uma palavra para que o mundo mude, AMOR, e a palavra estava lá.
A mão da figurinista Claudia Kopke não pecou, ainda mais com o final da cena, que realmente em tecidos dourados, faz a todos dentro do teatro entenderem, que um espetáculo daquele vale ouro.
Um desbunde artístico é como pode se classificar A Cura.
A direção executiva do João Elias, teve exito em levar a platéia, a ONG REDE que dá acessibilidade aos menos favorecidos ao espetáculo, cumprindo a missão, que a arte é e deve ser para todos!
Palmas para toda a equipe, que parece não ter em seus vocabulário a palavra errar!

Sinopse (Por Deborah Colker)

Comecei a perceber que precisava encontrar a cura. A cura do que não tem cura. Eu já sabia que precisava fazer uma ponte entre a fé e a ciência. Entre aceitar e lutar, entre calar e gritar, entre esperar e agir.

No inicio de 2018, Stephen Hawking morreu, e então entendi o que era a cura do que não tem cura. Hawking sofria de ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), doença extremamente cruel. Quando diagnosticado, os médicos deram a ele mais três anos de vida. Ele viveu mais cinquenta, criativos.

Passei a procurar histórias antigas. Nilton Bonder, como bom rabino, é um ótimo contador de histórias. Lemos muitas lindas. Mas acabei me fascinando por uma contada pelo coreógrafo baiano Zebrinha. É a história de Obaluaê, orixá da doença e da cura, da rejeição e da adoção.

As feridas se transformando em pipoca é lindo demais.

Cura não é sobre o Theo, mas sobre o que o nascimento do Theo causou em mim.

Eu precisava terminar o espetáculo com o meu antídoto à crueldade: nunca perder a alegria. E agradecer por poder fazer parte dessa grande festa.

Ficha Técnica

Criação, Coreografia e Direção

DEBORAH COLKER

Direção Executiva

JOÃO ELIAS

Direção Musical

CARLINHOS BROWN

Dramaturgia

NILTON BONDER?

Direção de Arte e Cenografia

GRINGO CARDIA

Desenho de Luz

MANECO QUINDERÉ

Figurinos

CLAUDIA KOPKE

SERVIÇO

Data: Até 20/02/2022

Local: Teatro Casa Grande

Endereço: Avenida Afrânio de Melo Franco, 290 – Loja A- Leblon – Rio de Janeiro/RJ

Horários: Qui a Sáb 20:30h | Dom 18h

Classificação etária: Livre. Menores de 2 a 17 anos anos entram acompanhados dos pais ou responsáveis.Crianças até 2 anos possuem gratuidade permanecendo no colo. De 3 a 6 anos de idade possuem meia-entrada.




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